1.
A
grande batalha
Hoje em dia, quando perguntamos
às pessoas como elas estão, muitas respondem: ‘estou na luta’. Pois no caso de
Francisco isso não era só um jeito de dizer. Ele viveu em pleno período das
Cruzadas e mais que representar uma preocupação, isso era símbolo de status.
Voltar vitorioso da guerra era motivo de ascensão social. Além das Cruzadas
contra os muçulmanos, havia ainda as lutas entre cidades, e Assis se envolveu
em muitas delas, despertando os olhares dos jovens, desejos de sucesso.
Numa noite, Francisco sonhou que
estava guerreando. “Quando acordou, começou a interpretar o sonho em sentido
mundano, como quem ainda não tinha experimentado plenamente o espírito de Deus,
e imaginava que se tornaria um príncipe magnífico. E pensando nisso, resolveu
fazer-se cavaleiro para conquistar tal principado. Por isso resolveu juntar-se
ao conde Gentil, que partia para a Apúlia, onde seria armado cavaleiro por ele.
Para esse fim preparou uma bagagem de vestes preciosas. Tornou-se, por isso,
mais alegre ainda do que de costume e encantava a todos. A quem lhe perguntava
pelo motivo desta súbita felicidade, respondia: ‘Sei que me tornarei um grande
príncipe’” (Anônimo Perusino 5).
Nossas lutas hoje podem ser
diferentes. Podem não haver cidades a serem derrotadas, não usamos armadura e
cavalos enfeitados, mas temos nossa batalha cotidiana: escola, trabalho,
salário, contas, vestibular... nos fazem ter de matar um leão por dia.
Como na época de Francisco, os
olhos dos jovens brilham por um futuro melhor, de alegria e reconhecimento. A
vida é batalha travada, não necessariamente contra alguém, mas contra tantos
fardos que nos pesam as costas.
2.
Perder
a batalha, mas não a guerra
Nossos sonhos e desejos profundos
nos fazem viver como apaixonados. Pensamos o dia todo no que vai acontecer.
Ensaiamos, fazemos de conta, criamos expectativa. Parece que a preparação de
uma festa é até melhor que a própria festa, por deixar no ar o sabor do que
poderá vir. Na vida é assim, é preciso lançar-se, ter coragem de correr riscos.
Se não corrermos atrás, as oportunidades não nos baterão à porta.
Francisco, como vimos da última
vez, tinha um grande sonho em sua juventude: sagrar-se cavaleiro, voltar da
guerra vitorioso e ser aclamado pela multidão. Foi assim que, em 1202, seguiu
para a batalha contra a vizinha cidade de Perúgia.
Esta batalha, no entanto, rendeu
a Francisco não as honrarias que tanto desejava, mas o jogou na prisão: Assis
perdeu a luta e muitos cavaleiros foram levados como prisioneiros de guerra.
Que decepção! Que frustração!
É assim mesmo: quando a vida nos
tira o tapete, ficamos com a sensação de que tudo foi em vão, de que fomos
derrotados, que falhamos. Mas não é hora de desespero nem de arranjar um
culpado. É, antes, hora de reflexão, de reajustar novas estratégias, de
reprogramar a rota.
O período em que Francisco esteve
preso foi muito importante para ele. O conforto de sua casa, suas roupas
cheirosas e macias, o carinho dos seus, seus sonhos se chocavam com a situação
atual na prisão.
Todos nós nos frustramos. Todos
nós perdemos. Nos decepcionamos. Isso é da vida, o importante é o que vamos
fazer a partir daí: chorar o resto de nossos dias ou tentar de novo, de um
jeito novo?
Para ver e ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=d50dUCyluHM
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